https://www.healthcareguys.com/2021/12/08/everything-you-need-to-successfully-run-a-healthcare-innovation-project/

Projetos estruturantes para a perpetuação da inovação

Antonio Valerio Netto

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José Otavio Costa Auler Junior, Ph.D e Antonio Valerio Netto, Ph.D.

O InovaHC — Núcleo de Inovação Tecnológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), coordenado pela Comissão de Inovação, que tem como presidente o Prof. Dr. Giovanni Cerri e vice-presidente o Prof. Dr. Fabio Jatene, tem promovido, com o apoio financeiro de agências governamentais e empresas privadas (por meio da Lei de Informática), o desenvolvimento dos chamados “projetos estruturantes”.

Trata-se de categoria de projeto cujas entregas finais contribuem consideravelmente com os objetivos dos planos diretores em nível tático ou com as ações do plano de gestão em nível operacional. No caso do InovaHC, são projetos de inovação tecnológica concebidos para promover a transformação digital da jornada do paciente no HCFMUSP, implementando, assim, um processo de adoção da tecnologia, cujos resultados da inovação se transformam em uma solução rotineira incorporada no dia a dia dos pacientes/usuários e profissionais de saúde. Diante disso, o foco está, além de desenvolver e validar, em implantar a solução a fim de colher claros benefícios para o processo produtivo.

Para promover uma assertividade em todo esse processo inovativo, o InovaHC tem aplicado a metodologia IVPM2 (Iterative & Visual Project Management Method), baseada no emprego dos princípios e práticas do gerenciamento ágil com o uso de estruturas de apoio à gestão de projetos, método que se desenvolve em cinco fases: Visão; Concepção; Projeto detalhado; Validação interna e externa; Encerramento e Adoção da tecnologia.

Resumidamente, a fase de visão busca determinar o escopo do projeto, a possibilidade de solução, objetivos a serem alcançados e a definição da interação com os stakeholders. Além disso, realiza o entendimento do perfil da equipe técnica e de gestão que irão trabalhar no projeto, bem como um levantamento inicial de custos e um dimensionamento de prazos com o objetivo de promover uma decisão “go no go” junto aos sponsors do projeto. Na fase de concepção, é realizado um detalhamento do plano de trabalho e do cronograma de entregas, de acordo com a fase de visão. Além da definição do organograma da equipe de gestão e técnica, ocorre um detalhamento das planilhas de custos econômicos e financeiros, além de possíveis contrapartidas. Por fim, é executado um planejamento e execução do kick-off do desenvolvimento da solução. Na fase do projeto detalhado, o foco inicial está na contratação da equipe de trabalho (interna e externa), além do alinhamento dos serviços corporativos junto ao HCFMUSP que serão prestados durante o desenvolvimento. Também está na aquisição dos materiais permanentes e/ou de consumo nacional ou internacional que serão utilizados. Nessa fase é possível aplicar, por exemplo, o método scrum (conjunto de atividades que deve ser executado em determinado período) com sprints semanais. Com a solução desenvolvida, inicia-se a fase de validação interna por meio de testes com um pequeno grupo de usuários voluntários oriundo da equipe do projeto. Nessa fase, o foco está na verificação e na validação da capacidade resolutiva da solução proposta, além da revisão dos resultados entregues, análise da situação atual e correção dos erros e falhas, assim como dos procedimentos e indicadores. Para a participação desse grupo é necessária a aprovação do Comitê de Ética de Pesquisa (CEP). Por fim, deve-se analisar os resultados, além de medir e verificar os indicadores definidos anteriormente. Na fase de encerramento, o objetivo está na criação de material para treinamento dos diversos usuários da solução, isto é, treinar quem irá operacionalizar no dia a dia. Por fim, chega-se à adoção da tecnologia, que se inicia com uma avaliação de indicadores. O ciclo é fechado com a definição do tempo de encerramento da atividade de inovação, dando início ao período da etapa de implantação na operação.

Na área de inovação do HCFMUSP, cada projeto estruturante é capitaneado por um professor titular. É possível citar a transformação da jornada do paciente do Transplante de Medula Óssea (TMO). Em linhas gerais, trata-se do desenvolvimento de uma plataforma de conectividade e interação com os pacientes — massiva, escalável, e economicamente viável — que integra sinais e informações relevantes do paciente TMO, proporcionando uma atuação mais eficiente e de forma remota na sua jornada. Esse projeto é oriundo do Instituto Central (IC) com o apoio do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). Entre outras atividades, o projeto busca prover uma solução que auxilie a equipe médica na identificação dos pacientes com urgência, além de promover o processo de cuidado híbrido durante a jornada do paciente pós-transplantado, fazendo uso de telemedicina e telemonitoramento.

Outro projeto envolve o Instituto de Radiologia (Inrad), cujo propósito inclui o desenvolvimento de um sistema de solicitação de exames baseado em algoritmos de Inteligência Artificial (IA) que apoie o médico solicitante a escolher o exame radiológico baseado nos dados e nas condições clínicas do paciente. Faz parte também dessa solução o agendamento dos exames de forma automática, ou seja, sem intervenção manual, respeitando regras da agenda, como por exemplo vagas bloqueadas por feriado, manutenção de equipamento e férias de médicos. Considera, inclusive, o perfil do paciente, como idade, sexo e endereço para alocar o melhor dia e horário, com o objetivo de aumentar a probabilidade do comparecimento desse paciente.

Como exemplo final, citamos o desenvolvimento da plataforma de reabilitação LucyIO, do Instituto de Medicina Física e Reabilitação (IMRea), cujo objetivo é aprimorar o tratamento dos pacientes e promover a pesquisa aplicada por meio da utilização de equipamentos de reabilitação inteligentes. O Cicloergômetro é um sistema modular fundamentado na estimulação elétrica funcional de músculos enfraquecidos ou paralisados direcionado para a reabilitação de pacientes com déficit motor nos membros inferiores devido a lesão medular, esclerose múltipla, doença de Parkinson, acidente vascular encefálico (AVE), entre outros. Inclusive, foi desenhado para uso individual domiciliar ou de forma compartilhada em clínicas de reabilitação de baixa complexidade. As contribuições para o paciente são a reabilitação (estimular a recuperação da musculatura paralisada), promoção da saúde (manter o trofismo muscular, ósseo e o condicionamento cardiovascular) e lazer ativos.

Fonte: Jornal da FFM ano XX, n. 125, junho 2022.

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